domingo, 6 de setembro de 2009

Nicolas Flamel

Nicolas Flamel, de acordo com uma gravura do século XVII.

Nicholas Flamel, célebre alquimista francês, nasceu por volta de 1330, perto de Pontoise, França, filho de uma família bastante pobre, mas que pôde lhe dar uma boa educação; jovem ainda ele foi para Paris, e lá se estabeleceu como escrivão público, sendo que era também livreiro juramentado da Universidade de Paris. Entre os serviços que estes escrivães prestavam estava o de copistas, pois na época ainda não havia imprensa e a cópia manual era a única maneira de se reproduzir um livro. Posteriormente Flamel passou também a trabalhar com compra e venda de livros.

Tudo indica que até esta época Flamel ainda não se interessava pela Alquimia mas, segundo relato seu, certa noite ele teve um sonho em que um anjo segurava um grande livro com capa de cobre, do qual lhe mostrou a página de guarda e disse: "Flamel, olha bem para este livro, não percebes nada do que ele contém, nem tu nem muitos outros, mas um dia verás nele o que ninguém seria capaz de ver."

O sonho se acabou aí mas não saiu da lembrança de Flamel, até que um dia ele se viu na presença do tal livro, que, por força de seu ofício, havia adquirido de alguém, como ele mesmo narra na sua obra Explicação das Figuras Hieroglíficas, ou O Livro das Figuras Hieroglíficas: "Pois eu, Nicholas Flamel, escrivão, logo que, após a morte dos meus pais, comecei a ganhar a vida com a nossa arte da escrita, fazendo inventários, pondo contas em ordem e suspendendo as despesas dos tutores de menores, veio cair-me nas mãos, pela soma de dois florins, um livro dourado muito velho e bastante grande; não era de papel ou de pergaminho, como são os outros, mas era feito apenas de delgadas cascas (segundo me parecia) de arbustos tenros.

A capa era de cobre muito fino toda gravada com letras ou figuras estranhas e, em minha opinião, creio que podia muito bem tratar-se de caracteres gregos , ou de uma outra língua antiga semelhante. Tanto assim que eu não era capaz de as ler e que sabia muito bem que não eram sinais ou letras latinas ou gaulesas, pois nós, disso percebemos um pouco. Quanto ao interior, as suas folhas de casca estavam gravadas e escritas com grande habilidade, com uma ponta de ferro, em belas e nítidas letras latinas coloridas.

Continha três vezes sete folhas (pois estas encontravam-se assim numeradas no alto da folha), a sétima das quais nunca estava escrita, e, em vez disso, tinha pintadas uma vara e serpentes a devorarem-se; na sétima folha a seguir, uma cruz em que uma serpente estava crucificada; e na última destas sétimas folhas estavam pintados desertos no meio dos quais brotavam fontes belíssimas, de onde saiam muitas serpentes que corriam por aqui e por ali.

Na primeira folha estava escrito, em grandes letras maiúsculas douradas: ABRAÃO O JUDEU, PRÍNCIPE, PADRE, LEVITA, ASTRÓLOGO E FILÓSOFO AO POVO DOS JUDEUS OU DISPERSOS PELA IRA DE DEUS NAS GÁLIAS, SALVE D. I. Depois disto, encontrava-se cheio de grandes blasfêmias e maldições (com a palavra MARANATHA, que estava repetida muitas vezes) contra toda a pessoa que pusesse os olhos nesse livro se não fosse sacrificante ou escrivão."

O próprio Flamel confessou que não entendeu nada do que continha o livro; a primeira folha só tinha o título do livro, a segunda trazia uma mensagem aos israelitas e a terceira falava da transmutação dos metais não-nobres em ouro e a sugeria como meio de pagar tributos aos imperadores romanos. Continha também um texto que dizia respeito à fabricação da Pedra-filosofal, que era relativamente claro, mas não mencionava qual era a matéria-prima a ser empregada nesta tarefa e isso passou a ser o grande problema de Flamel. Ele passou então a se dedicar à Alquimia, e tentava decifrar o livro para descobrir qual a matéria-prima que lhe permitiria obter a Pedra Filosofal, com a qual poderia transmutar os metais em ouro.

Apesar dos seus esforços Flamel não conseguia compreender o que era a matéria-prima, e além disso o anjo do seu sonho nunca mais se manifestara; ele fez então uma oração dirigida ao próprio Deus, em que pedia o êxito para seus esforços. É esta oração que, pela sua beleza, profundidade e riqueza de significado, julgamos ser de interesse do buscador espiritual e por isso a reproduzimos aqui. As informações e citações que utilizamos foram obtidas do livro O Ouro dos Alquimistas, de Jaques Sadoul (Edições 70, Lisboa, Portugal - Coleção Esfinge).

ORAÇÃO DE NICHOLAS FLAMEL

"Deus Todo-Poderoso, Eterno, pai da luz, de quem vêm todos os bens e todos os dons de perfeição, imploro a Vossa infinita misericórdia; permiti-me conhecer a Vossa infinita sabedoria; é ela que rodeia o Vosso trono, que criou e realizou, que conduz e conserva tudo.

Dignai-Vos enviar-me do céu o Vosso santuário, e do trono a Vossa glória, a fim de que seja e que opere em mim; é ela que é senhora de todas as artes celestes e ocultas, que possui a ciência e a inteligência de todas as coisas.

Fazei com que ela me acompanhe em todas as minhas obras, que, pelo seu espírito, eu obtenha a verdadeira inteligência, que eu proceda infalivelmente na arte nobre a que me consagrei, na pesquisa da miraculosa Pedra dos sábios, que escondestes do mundo, mas que costumais revelar pelo menos aos vossos eleitos.

Que essa Grande Obra, que devo executar neste mundo, a comece, a prossiga e a termine de modo feliz; que, contente, eu viva satisfeito para sempre. Peço-vos, por Jesus Cristo, a Pedra celeste, angular, miraculosa e firmada em toda a eternidade, que governa e reina convosco".

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